Entre, leia e ouça-me...

domingo, 8 de maio de 2011

Chama

Obrigada. Obrigada, imensamente.
 E, então, não cabem mais as palavras. Mas eu insisto nelas. Porque não há qualquer coisa melhor em mim do que estas, que possa pintar, da maneira mais verossímil, uma luz. Mesmo quando, ainda assim, não a alcançam de fato, essas serão a visão mais prima dessa chama linda que arde dentro de mim.
Porque tudo é pequeno demais perto de você. Porque você se faz muito maior que a imensidão de coisas relevantes que há para viver. Porque viver novos sonhos e conquistar longas distâncias não representa absolutamente nada, se antes eu não tiver conquistado e vivido cada pedacinho desse brilho, que se chama Mãe.
Obrigada, mais uma vez.
Afinal, o que há de belo para se mostrar a um Amor que, por não caber todo em si mesmo, construiu morada sob o coração, para que lá fosse, durante nove meses, um pequenino pedaço dessa imensidão?  O que há que seja mais pleno que um Amor que lança no mundo, então, suas expectativas, seus sonhos e suas paixões em forma de vida?
O que há para se dizer quando o seu Amor por mim não mede palavras – tanto aquelas que não deveriam ter sido ditas quanto as que não foram, e deveriam ter sido -? O que há para se dar a um Amor que cede a própria existência em função de mim, sem hesitar?
Não resta nada mais grandioso do que o reconhecimento desse mesmo Amor. Amor esse seu, que não provém das coisas finitas, mas que vem incendiando o céu numa centelha cadente e pousa eternamente sobre a sua alma diamantina, Mãe.
Então, anseio. Anseio simplesmente retribuir à Perfeição, de forma que busco, nessa imagem, uma expressão que toque você, qualquer coisa como uma melodia que venta suave em seu rosto. Uma canção que, pouco a pouco, vai preenchendo o olhar e transborda em gotas áureas. Uma sinfonia inteira que purifica o mundo com uma chuva fresca de Amor, Amor, Amor; de tal maneira que a tempestade flui nos rios, desagua nos mares, contagia tudo, tudo, tudo.
O mundo, enquanto isso, desfruta da sua beleza. A última nota, ela ecoa risonha no silêncio dos rostos.  A plateia sorri, a ama. A sua nota resplandece até o fim. Luz, brilha, até o último flash, a última chama: Mãe...

domingo, 1 de maio de 2011

A Última Peça

Deixou a porta aberta
(para ela entrar)
Recostou-se numa parede qualquer
Seus dedos nas notas a sangrar
(para ela o escutar)

Então, ela a estender-se aos seus pés
Suas mãos a passarem até seu peito
É ela delineá-lo (e seu toque arder)
O violão numa melodia triste
Incicatrizável angustiada

As mãos sobre o pulsar
Ela a deitar nele também sua face
E a ouvir no ritmo a alma
(revelam-se as feridas socadas
para dentro do ser em soluçares mudos)

Ela, má, sorri e olha nos seus olhos.
E olha nos seus olhos
E falsamente o pede perdão,
Diz que era tudo inevitável
(mas é mentira)

Gela seus lábios sua sorte
Toca o seio da sua vida, atravessa-a
Traz para fora essa que ainda nele restava
Foi o beijo da morte

Mas retribui, (treme por causa do frio)
Bebe de sua cicuta mortal
(é sim, mui formosa
negra, pois é a Noite
impassível, glacial,
sem Lua, nem mar
sem planícies
sem linhas

sua língua ama de mentira
mas o destrói de verdade
só que nesta última peça,
Seus lábios queima ele)

A seduz, e ela arde em chamas suas
Toma, conquista seus braços
E dá-lhes o corpo que era seu
E ela goza dele, por ele

(mas falha,
e sabe nada ao certo:
já deveria ter ido, mas sente
sente paixão, sente a vida
é quando perde o medo dela...)

Seus beijos ocupam-se de mantê-la saciada
Saturada, queimada em chamas
(que um dia ao vento serão apenas cinzas)
Rouba a sua adaga do tempo
(enquanto toca seus virgens seios nus)

E a morte sangra, então,
Escorre no tempo um pesadelo negro
Em suas últimas palavras, o amaldiçoa
(a flor jaz morta no chão) 
Deixa com ela seu violão
(uma lágrima sequer, não mais:
sem riscos
sem medos
sem dor
sem ela)

Em sua mão, seu coração
E ele o retorna aonde pertencia
(não como antes,
sem aquela alma angustiada
sem a alma inteira)

Quem sou eu

Minha foto
Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.