Entre, leia e ouça-me...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Costela

Eis aqui o meu mundo, mas
Não sugues das árvores a sua seiva;
Não arranques as flores dos jardins;
Não seques os rios de águas doces;
Não semeies aquilo que não quererás colher;
Não maltrates os animais:
(Deixa em paz os passarinhos!)
As formigas, não lhes atrapalhes o árduo trabalho;
As borboletas, adore-as lepidopteramente;
Os felinos, não os intentes jamais dominar!
Os botos, guarda-lhes os segredos;

Derrota os montros, as bruxas e os fantasmas;
Vence os cavaleiros maus e sombrios;
Desbrava os oceanos, descobre os continentes;
Ama as sereias e salva as donzelas, cresce Herói;
Comanda os exércitos, torna-te General;
Cuida de tua casa, age como seu Senhor;
Sê magnífico em tudo, sê Príncipe;
Domina os povos, sobe o trono Rei;
Medeia as guerras, faz-te Imperador;
Namora a Princesa, casa-te com a Rainha;
A Imperatriz, desafia-lhe a desvendar teu nome!

E talvez, então, Adão, eu lhe devolva a tua costela ...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Você me fala do fim (15/06/2011)


Você me disse que o grande lance está em viver intensamente cada dia, mesmo sabendo que há de haver o fim. Eu digo, então: depende. Acho válido o seu dito, mas ainda discordo dele.
Vamos começar com a seguinte pergunta: que história é essa de que VAI ter fim? É claro que você logo divagará a respeito da inevitabilidade da Morte, o austero emblema do fim, que os alfas só têm sentido se há os ômegas, etc. No entanto, será que a morte é, de fato, a única certeza predeterminada? Será mesmo que a morte já está predestinada? E como você diz isso? Por analogias?  Vai dizer que a Morte constrói o homem? Você optaria por Ela se pudesse ser eterno? Vai dizer que a maior missão do homem ao longo dos tempos não tem sido driblar o beijo frio dessa negra Senhora?
Eu digo que a Morte talvez cesse os impulsos correndo ao longo do músculo cardíaco, talvez a esperada Senhora já tenha apagado as luzes dentro das mentes mais brilhantes que o mundo já conheceu; mas a vida permanece em quem fica. O homem deixa seu legado na permanência memória, em quem amou, em seus escritos, em imagens, em músicas, em tudo o que ele constrói.
Vai dizer que Vinícius de Moraes morreu? Mário Quintana? Machado de Assis? Anne Frank? Marthin Luther King? Mozart? Chopin? Beethoven? Debussy? Descartes? Tolkien? Aristóteles? Freud? Nem Hittler morreu…
Ser humano não é ser vazio, mas cheio de vida, cheio de vidas, um coletivo que só morre quando há o esquecimento. Portanto, posso dizer que a verdadeira morte é o esquecimento. É possível, sim, olhar a vida de forma que a Morte não signifique o fim. Por isso, acho que essa essa sua história de destino, de que vai-sim-senhor, que tem-que-ser, é furada. 
Relacionamentos vão até onde vai o comprometimento humano (aliás, tudo na vida é assim). Saber disso, na verdade, é o grande lance. Não é que seja tudo um belo e fofo conto de fadas, quase tudo realmente termina. O cupido se zanga, os santos não batem gente se cansa, as forças se esgotam, a paixão acaba, a chama apaga; o homem é falho e por isso é finito.
Concordo com você que há nobreza em fazer o melhor diante da certeza do fim, mas me incomoda essa convicção, essa bola de cristal, esse tarô, essas cartas que dizem que nada é relativo, que as coisas são até que.
O seu realismo certamente dá um banho no meu romantismo. É que, apesar das constantes, a matemática não seria nada sem os xis e os ypsilons. Considerando que o seu personagem e o meu concordem que se fez infinito enquanto durou, o que nos faz diferentes é a motivação. Seu personagem fez o melhor, apesar de saber do fim; o meu o fez a fim de perdurar. Quanta angústia  há em amar alguém à espera do fim? Como não temer o fim do Amor?

Quem sou eu

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Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.