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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Carta À Interlocução

Caro Senhor Interlocutor,

redijo estas letras nefastas com o colérico propósito de por um epitáfio na lápide em que aterrei o senhor, ou um tal de oceano profundo. Não há nada que seja necessário dizer-te, concluí agora mesmo. Aliás, devias pagar-me com muitos amores, por cada vez em que não foste digno de dizer à pobre menina uma verdade que fosse. Devias ouvir muitas coisas tristes, mas Ela disse apenas as mais bonitas. Devias ter sido, ao menos, íntegro, meu querido interlocutor infausto. Um "sim" ou um "não" teria bastado, meu caro!
Senhor Interlocutor, informo-lhe, entretanto, que, já que a menina morreu contigo, o senhor não deve, pois, nada. Agora, senhor Oceano, peço que fiques ai, bem quietinho para sempre, devidamente morto-no-teu-canto. Peço encarecidamente que não deixes na mulher o teu gosto salgado, nem a tua frieza ártica. Não faças com que a senhorita seja tão manipuladora, tão má como tu. Não, por favor, não permitas tu que ela aprenda a brincar com os corações como o senhor bem o faz! Mantenha distância, que és uma imagem póstuma na sua vívida alma jovem; não transbordes, pois, senhor.
Ela é feliz, ela é íntegra, ela é boa. Ela está sã. Deixa em paz os passarinhos! Deixa em paz a ela! Os diários não foram escritos para te encantar, minha caríssima Interlocução. Os textos são o grande amor tanto da menina quanto da mulher. Elas amam as letras, somente. Somente, meu caro.
Sabe o que fostes, deveras? Fostes um michê literário, meu amor. És (per)feito para uma boa história. És confuso, és dissimulado, és cínico, és louco. És um anti-herói! Não foi possível, no entanto, achar-te um final eufórico ainda - ou será que és nada mais que um antagonista?-.
E não há de se saber por essas bandas sobre qualquer outro suspiro teu novamente, visto que a donzela, já crescidinha, não está interessada na personagem. Logo, aqui não há nada sobre finais felizes para as histórias do nada-aventureiro Interlocutor. Há apenas o desinteresse e as não-questões, porque bastaram as grandes questões apaixonadas e sem-resposta da sonsa menininha-fantasma. Há apenas o vazio. Há a tua morte, Interlocutor.
Ah, o epitáfio! Oras, mas não se deve esquecer o verdadeiro propósito da redação! Um epitáfio devido, um epitáfio.... mas veja só! Quem poderia prever que, depois de toda a tagarelice, não conseguiria pensar em coisa alguma! Deixemos esse tal de epitáfio pra lá! Quem se importa...! Como diria um certo defunto autor, "a obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus."

Meus pêsames,

Tua Odiosa/Irrelevante/Amada Autora. 


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Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.