Entre, leia e ouça-me...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Oceano ( O Diário de Ela - IV )

À minha frente, um oceano inteiro vinha me seduzir. Não havia mais ninguém ali. Em mim, era o anelo latente pelo verde, o seu verde quimérico que transbordava meu quarto em noites insones. Ele permanecia inabalável. Suspirando em mim, incitava-me a ceder ao cheiro das suas águas puras. Eu resfolegava em seu sopro brando, pois ele continha a minha alma arraigada em sua brisa fresca.
Ele impetuoso mantinha-se sobre mim. Em suas mãos, eu era descoberta como algo novo, como uma concha de nácar estranha àquele que era dono de todas as outras. Ele delineava minha tez com beijos intensos, ondas insanas. Eu era embebida com os toques de um oceano quente em minha alma. Era o mar sobre mim. Ele sussurrava. Eu, tomada por um desejo depravado, então, solenemente me desnudei de cada véu que antes encobria minha forma. Era o mar em mim. Avançando, arrebatava-me para além da ressaca, dentro de sua esmeralda infinita.
Subitamente, meu corpo nu era engolido pelas águas verdes límpidas desse oceano. Ele era em mim a extensão plena de um prazer incessável, suscitando o anseio de levar-me mais fundo. Eu passei, então, a nadar emaranhada pelas suas visões, seus sonhos, seus desejos, seus anseios, sua essência e, por mais que eu avançasse pelo verde, esse oceano é que penetrava em mim. Eu lançava cada impulso ao mar, e ele me possuía sempre.
Eu  me sentia apenas uma corrente que o agitava por dentro, que passeava pelas suas águas. Todavia, ele fazia de mim a corrente que o transformava por dentro, que levava e trazia-o de volta às suas águas.  Seu espírito tão imenso acendia no meu um fogo, que relampejava gemidos inexprimíveis de um deleite apaixonado no horizonte esquecido por nós dois.
Eu e o oceano. Ele era em mim; e eu, nele. Eu era profunda porque ele era profundo. A alma ascendia além do corpo, que se ocupava em servir a satisfação sem-fim, derramando-se em um mar de sentimentos, promessas, amores idealizados - ora, deixai a taquicardia fazer pular o coração pelo sonho! Afinal, ao despertar, ele ainda será profundo. Ele é mesmo um oceano verde profundo...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fim.

Ando nas ruas, mas não sigo em frente. Ando por caminhos e não vou a lugar algum. Cumprimento com umas respostas automáticas uns vultos passando por mim. Alguns querem me falar, mas não paro para ouvir o que não quero lembrar. Lembrar da minha distância. Vi lágrimas, vi dor, não vejo nada. E cada vez mais vejo como é o nada, por causa da minha dor, por causa das minhas lágrimas. Tudo é tão distante agora. Não há mais ninguém, também não há mais cores, sons ou vozes. Apenas eu mesma. Só o que restou, por um pouco...
 (Foi por tão pouco...)
Fecho os olhos e não sei onde estava nem onde estou. Só eu vazia, falando de mim mesma. E um de Você, cheio de si. Brindando comigo, brincando comigo.
*Tin-tin*
(Um brinde ao egoísmo!)
E o mundo se dissolve por um minuto...
O que foi que Você disse mesmo? "Eu vou te amar para sempre" ou será que foi "não sei mais o que somos um para o outro"? Perdão, foi rápido demais para que eu pudesse compreender.
Não, eu não culpo a parte real de Você: o tempo - ou o resto da vida - que Você pediu para nós é, mesmo, o certo. Temos outros focos, outros objetivos por enquanto. Não há espaço para mais amor no mundo, não para o nosso.
Culpo mesmo é o que brindou, brincou comigo. A parte de Você que, aqui dentro e todo o tempo, murmurou tantas promessas impossíveis. E eu acreditei. Revivendo com ele amores sem-fim que precisaram de um tempo e, talvez não saibam, nunca mais, voltar.
Foi culpa dele que me trouxe um romantismo egoístazinho-metido-a-besta. Me fez acreditar que eu podia te dizer meu. Desaprendi a vida sem a fértil emoção a dois, o mundo que não gira ao nosso redor.
Na verdade, a vida é muito mais que isso. Amar é muito mais que isso. O Amor é muito mais que isso. Amar, viver é ter fé, também é querer bem. Amar é viver sabendo que as pessoas são como areia na palma da mão: não se pode fechá-la que elas escapam por entre os dedos. É preciso abrir mão e, se o Vento quiser levar, é deixar ser. E assim ser para elas o melhor e mais firme amparo que conseguir, sabendo que talvez um dia, um dia...
É culpa minha também. Me deixei seduzir, ser insana. Embriaguei-me com o sabor destilado em cada gole daqueles beijos. Não cogitei deixar seus lábios. Não pensei nas feridas, não pensei em nós, em ninguém.
(Mentira. Pensei sim, em mim. Enlouqueci.)
 Não é que eu queira deixar esta louca intensidade para trás, não. Umas boas doses de Você me inspiraram mais do que mil versos perfeitos, verdade. E sem precisar nem mesmo de palavras, só do seu toque perfeito emaranhado em minha alma vã. Sua mão está lá, queira Você ou não, para sempre.
(Queira você ou não, amor...)
E lá se vai a última gota no copo. E também não quero mais brindar, brincar - a próxima vez será fatal-. Permanecerei sóbria para o próximo cumprimento. Quero lembrar onde estou, quero saber quem sou. Quero ver neles, que ficaram atrás de nosso brinde, mais que vultos passantes nas ruas. Quero ser mais que uma passante, quero contar-lhes histórias bonitas, cantar palavras doces, palavras precisas, palavras certeiras. Quero ver além desse complexo de amores ébrios.
(Sóbria.)
Abro os olhos e me deparo com o primeiro próximo vulto. Aos poucos, decifro sua imagem embaçada e percebo sua silhueta; uma forma de andar um tanto peculiar, quase familiar. Agora, as linhas de sua face. Um tanto rígidas - penso que talvez precisem de palavras doces, isso -, parece preocupado, bastante preocupado. É um homem.
(Mas, o que será que... ?)
Então, posso ver os olhos. E não preciso de mais nada para saber quem são aqueles dois cometas, caindo sem que eu saiba o porquê. São Você.
Talvez seja um sinal, talvez haja mesmo esperança no futuro. Um futuro correto, certo para mim e para Você. Ou não.
(Não...?)
Vejo Você chorar, de repente. Pude ler os seus lábios dizendo "Não!"
Olho para o lado, e algo me atinge tão repentinamente quanto as suas lágrimas.
(Tudo se desfaz...)
Deitada no chão, meu corpo dói. Muito. Você se abaixa, me pergunta por que diz que foi estúpido que me ama que eu não me vá que não quer fugir que eu não ouse te deixar agora e penso em dizer te amo te quero que vou lutar que vou sobreviver por Você que nunca vou deixar Você te amo te quero ao meu lado fica comigo sempre. Sempre...
Mas eu guardo tudo para mim. Apenas sussurro "Deixa ser.."
(Tudo se desfaz, então.)

Pela e À Inspiração.
Camille Lyra

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Insanidade (O Diário de Ela - III)

01/09

- Faz bem jus ao título você aqui travando diálogos consigo mesma. Vim te fazer companhia, posso?
- ATÉ parece que você faria isso pra valer. Me fazer companhia... pff! E o título não é por isso, nadaaver. É pela forma como eu me sinto, não pelo modo como estou pensando agora.
- Ei, eu já sentei ao seu lado pra valer, tá?! E você se lembra muito bem disso. Não pode esconder nada de mim aqui dentro, bobinha. Vê se para de doce, quisso me irrita. Homem não gosta dessas coisas.
- E você quer que eu seja o quê? Dada?! Mas não mesmo! Nem apaixonada, nem bêbada, nem insana, nem pela possibilidade efetiva de ter você.... tá, quem eu estou enganando aqui? Já disse mais do que deveria antes. Já apressei as coisas. Troquei os pés pelas mãos. Droga, não deveria ter contado a você, não deveria...
- Porra, quer parar de se auto flagelar? Que saco!
- Tá vendo? Nem aqui você me suporta...
- Eu te suporto sim. Não quero é ver você se perder em uma idealização tola. Nem mereço isso tudo. Não mereço essa imensidão toda nas suas lágrimas. Não quero você por aí, chorando pelos cantos da noite por minha causa. Não há necessidade disso. É o que é e ponto. Você vai me esquecer, terá sido só um sonho mau e pronto, passará. Vai ser melhor assim.
- Mas eu não quero o que vai ser, eu quero o que é melhor. E eu até deixo você me chamar de hedonista, se mudar de ideia...
- Não vou me aproveitar de você só porque bebeu uns copos a mais de paixão. Putz. Essa metáfora ficou uma porcaria.
- É, eu esperava menos e mais de você. Menos porque eu queria que você se aproveitasse de mim, e mais porque a metáfora está uma merda mesmo. Principalmente pelo personagem que você representa aqui.
- Olha, você é linda, charmosa, inteligente, mas não vou...
- QUER PARAR COM ISSO?
- O que foi?!
- Você NÃO tem o direito de ficar repetindo o que ele me disse. Se quisesse levar um fora, procuraria falar de verdade com ele, de novo.
- Mas é verdade. Você é isso. E muito mais. Não fomos só eu e ele quem disse isso. E você sabe disso.
- Dane-se se é verdade ou não! PO! Nem aqui você me leva a sério?? EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ! EU SÓ QUERO CURTIR!! Está bom assim? Se eu fosse uma puta você me beijaria? Você foge de mim só porque meus lábios diriam verdades? - Não, não seriam absolutas. Eu sei que você não acredita nelas  - Eu só quero que seja infinito enquanto dure..
- Ou enquanto..
- Cala a boca! Não quero ficar rindo sozinha das suas piadas. Isso é tão estúpido!
- A paixão é estúpida, querida.
- Eu sou estúpida mesmo! Estúpida é essa conversa maluca. É estúpido eu querer você da forma como eu quero. eu me conter tanto perto de você. Céus, haja auto controle...
- Noooossa, que menininha mais safada!
- Me poupe, tá ?
- Você às vezes é tão ácida. Sabia que isso deve te afastar dele na vida real?
- Não posso ser 'docinha' o tempo todo. Você sabe que quando você, quando ele está perto... Bom. Você sabe. Eu não posso sair fazendo o que bem entendo lá. Nem com ele.
- Sei. Mas não precisa fingir que ele/eu não existe/o.
- E VOCÊ QUER QUE EU TE LEMBRE COMO EU FICO QUANDO EU SEI QUE ELE EXISTE?
- Não precisa. Seu escândalo é auto explicativo.
- Sabe. Eu podia acabar com tudo isso agora mesmo.
- Ahhhh! Pelamordedeus! Me poupe dos devaneios mórbidos... você sendo dramática já me dá bastante trabalho. Depressiva não, por favor!
- E você acha mesmo que eu perderia minha vida por isso? Pff.. Isso não passou nem pela minha cabeça (só agora, né? affe!). Não seria tão idiota a esse ponto. Não me sinto TÃO insana assim. Eu disse que se eu quisesse, eu voltava atrás. Eu posso. Tudo isso é evitável. Mas eu não quero voltar.
- Você comeu merda? Se livra logo de mim e para de sofrer. Deixa disso.
- Foi você quem disse que um pouco de angústia faz bem também. Não que eu não soubesse disso antes, afinal você não me ensina tanta coisa assim além daquilo que você tem que ensinar. As lições sobre a vida eu já tinha ouvido quase todas antes.
- Você está completamente louca.
- E não me orgulho disso. Mas qualquer coisa com você é melhor do que antes. Sofrer com você é melhor do que lembrar do passado. Melhor do que esperar o passado vir pousar no futuro. É que eu já não posso mais ver voo algum. Não tenho esperança alguma. Estava caindo. Agora, já estou mesmo é no inferno  com você.
- Isso porque você gosta de mim....
- Você não é nem de longe perfeito como o passado. Você não chega aos pés dele. Você é a criatura humanizada que vem me seduzir na sua imperfeição, me anestesiar, enfim. Sofrer por você é anestesia para a minha dor. E você é lindo, por dentro e por fora. Mas a gente escolhe sim quem ama E eu não amo você. Só que preciso de você. Eu preciso me perder em você. Não parar me livrar das minhas noites de solidão, você não é solução alguma. Você é um desvio. Mas a sua solidão repele meus pesadelos. Eu desejo cuidar de você. A sua intensidade me faz esquecer de mim. Os seus olhos, é como se eles fossem quebrar a qualquer momento na ressaca desse oceano de angústia  que você carrega. A sua angústia também não é maior que a minha. Mas é mais instigante. Você é uma caixinha de emoções e sentimentos tão delicada, sempre a ponto de abrir e trazer algo imprevisível lá de dentro.
-...
- E eu anseio fazer parte da sua solidão. Acariciar a sua alma humana imensa. Penetrar na sua essência e me perder no clichê que é você. Estudar isso, que te faz tão peculiar, o fato de você ser tão humano, tão frágil, tão hipócrita, tão triste, tão imperfeito. Perfeitamente imperfeito. Eu preciso dissecar o seu coração, só para descobrir o quanto você é razão, o quanto você é emoção.  Não quero só o que você tem a me ensinar. Quero aprender em você. Quero aprender você. Me deixa?
-...
- Tudo agora é diferente. Nada é agora como era antes. Os princípios mudaram, desde que me dei conta de que estava totalmente imersa neste jogo. E é assim que me sinto insana. Não, eu não me reconheço aqui dentro.  Sou o que antes não era e era o que agora não sou. Sou eu em você, querido. Sou eu. Me deixa entrar, por favor...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eu em mim

Emfim,
este é o meu corpo
Flor que amadureceu

Estalo os dedos
é sonho
Respiro fundo
é brisa


Estendo os braços
é asa
Driblo as falhas
é voo

Esperança resolvida,
Verso que ficou pronto
Meu corpo é assim

Olho o seu rosto,
misterio
Ouço sua voz,
estrangeira
Cheiro o seu suor,
lembranças
Sinto sua pele...
sou eu

Sou eu,
para a dor e o prazer
para o sabor e o saber
para a emoção de viver:
Viagem tão companheira...
Sou eu sim,
Sou eu assim,
Sou eu enfim
com meu corpo em mim !



 Por Gabriel Natan Lyra de Espanha, 11 anos 
O irmão, amigo e, pelo visto, poeta...

Quem sou eu

Minha foto
Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.