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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Das Páginas do Meu Diário

Eu não sou um livro em branco. Tenho essas dezoito páginas rabiscadas, escrevinhadas, improvisadas, redigidas. A minha caligrafia poucas vezes adorna o papel. Sou humana e na vida real não existe liquid-paiper. Apesar disso, minhas humildes 18 páginas têm histórias para contar.
Algumas páginas estão manchadas de tristeza. Eu chamo essas manchas de lágrimas, há quem chame de silêncio e há quem chame de esquecimento. Há também aqueles que passam a escrever por cima desses borrões no texto, uma pena. É possível até que por cima haja um belo desenho, mas o autor nunca se esquecerá que seu bonito desenho está a esconder uma tristeza.
Eu prefiro dar às lágrimas o seu espaço. Vão, distorçam a tinta que vocês tiverem que distorcer. Ainda assim, fui eu quem escrevi. Cada uma dessas manchas me ensina que a dor existe para (de)lapidar a alma. Façam, pois, o que têm que fazer: firam, despedacem, manchem-me as belas palavras. Apenas terminem logo com isso. Há de restar um pedaço de alma aqui e ali. Um dia, eu costumo dizer, essa alma restante será um diamante. Um daqueles que brilham lá no céu.
Eu sempre amei o céu à noite. Sou apaixonada pela Lua, chamo-lhe de Cheshire, porque me apaixonei pelo seu sorriso. Penso nela como esse grande gato gordo e sinto-me numa encruzilhada qualquer no País das Maravilhas. Sua dona, a Rainha de Copas, bem me disse que não se pode conquistar nada com lágrimas. Nada de formar, pois, lagoas com a tristeza. Sábio conselho.
É por isso que não guardo mágoas e procuro não afogar todos com o meu chororô. O rancor é, no entanto, mais como um oceano que se forma, tempestuoso, e cujas tormentas afogam tudo que há pela frente. Quanto amor já não morreu afogado por aí? Que crime terrível seria matar afogada tanta vida que ainda há!
Há também os medos, que me fazem chorar, mas os quais enfrento quando preciso. Há muitas criaturas medonhas pelos bosques e, à noite, os fantasmas surgem. As bruxas más do Leste e Oeste vêm para desenhar, marcar e tatuar as minhas páginas, e preciso enfrentá-las, quem escreve a minha história sou eu, não elas! Se tenho medo? Claro! Mas não existem corajosos que não tenham medo nas histórias da vida real. Aliás, não há heróis na vida real, há apenas um espantalho, um homem de lata e um leão covarde que eventualmente ajudam-me pelas estradas de tijolos amarelos.

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Quem sou eu

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Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.