Entre, leia e ouça-me...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fim.

Ando nas ruas, mas não sigo em frente. Ando por caminhos e não vou a lugar algum. Cumprimento com umas respostas automáticas uns vultos passando por mim. Alguns querem me falar, mas não paro para ouvir o que não quero lembrar. Lembrar da minha distância. Vi lágrimas, vi dor, não vejo nada. E cada vez mais vejo como é o nada, por causa da minha dor, por causa das minhas lágrimas. Tudo é tão distante agora. Não há mais ninguém, também não há mais cores, sons ou vozes. Apenas eu mesma. Só o que restou, por um pouco...
 (Foi por tão pouco...)
Fecho os olhos e não sei onde estava nem onde estou. Só eu vazia, falando de mim mesma. E um de Você, cheio de si. Brindando comigo, brincando comigo.
*Tin-tin*
(Um brinde ao egoísmo!)
E o mundo se dissolve por um minuto...
O que foi que Você disse mesmo? "Eu vou te amar para sempre" ou será que foi "não sei mais o que somos um para o outro"? Perdão, foi rápido demais para que eu pudesse compreender.
Não, eu não culpo a parte real de Você: o tempo - ou o resto da vida - que Você pediu para nós é, mesmo, o certo. Temos outros focos, outros objetivos por enquanto. Não há espaço para mais amor no mundo, não para o nosso.
Culpo mesmo é o que brindou, brincou comigo. A parte de Você que, aqui dentro e todo o tempo, murmurou tantas promessas impossíveis. E eu acreditei. Revivendo com ele amores sem-fim que precisaram de um tempo e, talvez não saibam, nunca mais, voltar.
Foi culpa dele que me trouxe um romantismo egoístazinho-metido-a-besta. Me fez acreditar que eu podia te dizer meu. Desaprendi a vida sem a fértil emoção a dois, o mundo que não gira ao nosso redor.
Na verdade, a vida é muito mais que isso. Amar é muito mais que isso. O Amor é muito mais que isso. Amar, viver é ter fé, também é querer bem. Amar é viver sabendo que as pessoas são como areia na palma da mão: não se pode fechá-la que elas escapam por entre os dedos. É preciso abrir mão e, se o Vento quiser levar, é deixar ser. E assim ser para elas o melhor e mais firme amparo que conseguir, sabendo que talvez um dia, um dia...
É culpa minha também. Me deixei seduzir, ser insana. Embriaguei-me com o sabor destilado em cada gole daqueles beijos. Não cogitei deixar seus lábios. Não pensei nas feridas, não pensei em nós, em ninguém.
(Mentira. Pensei sim, em mim. Enlouqueci.)
 Não é que eu queira deixar esta louca intensidade para trás, não. Umas boas doses de Você me inspiraram mais do que mil versos perfeitos, verdade. E sem precisar nem mesmo de palavras, só do seu toque perfeito emaranhado em minha alma vã. Sua mão está lá, queira Você ou não, para sempre.
(Queira você ou não, amor...)
E lá se vai a última gota no copo. E também não quero mais brindar, brincar - a próxima vez será fatal-. Permanecerei sóbria para o próximo cumprimento. Quero lembrar onde estou, quero saber quem sou. Quero ver neles, que ficaram atrás de nosso brinde, mais que vultos passantes nas ruas. Quero ser mais que uma passante, quero contar-lhes histórias bonitas, cantar palavras doces, palavras precisas, palavras certeiras. Quero ver além desse complexo de amores ébrios.
(Sóbria.)
Abro os olhos e me deparo com o primeiro próximo vulto. Aos poucos, decifro sua imagem embaçada e percebo sua silhueta; uma forma de andar um tanto peculiar, quase familiar. Agora, as linhas de sua face. Um tanto rígidas - penso que talvez precisem de palavras doces, isso -, parece preocupado, bastante preocupado. É um homem.
(Mas, o que será que... ?)
Então, posso ver os olhos. E não preciso de mais nada para saber quem são aqueles dois cometas, caindo sem que eu saiba o porquê. São Você.
Talvez seja um sinal, talvez haja mesmo esperança no futuro. Um futuro correto, certo para mim e para Você. Ou não.
(Não...?)
Vejo Você chorar, de repente. Pude ler os seus lábios dizendo "Não!"
Olho para o lado, e algo me atinge tão repentinamente quanto as suas lágrimas.
(Tudo se desfaz...)
Deitada no chão, meu corpo dói. Muito. Você se abaixa, me pergunta por que diz que foi estúpido que me ama que eu não me vá que não quer fugir que eu não ouse te deixar agora e penso em dizer te amo te quero que vou lutar que vou sobreviver por Você que nunca vou deixar Você te amo te quero ao meu lado fica comigo sempre. Sempre...
Mas eu guardo tudo para mim. Apenas sussurro "Deixa ser.."
(Tudo se desfaz, então.)

Pela e À Inspiração.
Camille Lyra

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Quem sou eu

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Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.