Entre, leia e ouça-me...

domingo, 9 de outubro de 2011

Meu


Não irei chamar-te diário, pois esse nome não fará juz ao que és, de fato. Veja bem, não é que não mereças ser visitado assim, tão amiúde, todo papel em branco é digno de ser escrito sempre. É a minha alma que, mui pequenina, esboça ainda as primeiras sílabas, ainda não entende de rimas, ainda dedilha pouco os versos pela lira, ainda canta acanhada e em raros dias. Peço, no entanto, que me concedas sempre a mão para dançar comigo ao som de minh'alminha melódica.
Não chamarei teu nome como amigo, porque não me tocarás o rosto para me dizer 'está tudo bem', não virás abraçar-me em consolo, nem irás amar-me incircunstancialmente. Um dia, também, eu não poderei estar contigo, contudo, serás por mim querido, e te guardarei e te cuidarei com zelo, como com nenhum outro livro, nenhum outro escrito.
Clamarei, porém, em prantos por teus confortos em minhas aflições, e serás silêncio mudo. Cantarei, também, como os pássaros poesias em altíssono, mas serás em meus cantos silêncio pacífico.
Silêncio este que tu deixarás tatuado em meu peito exausto, amargurado às noites nubladas. Esse silêncio que escorrerá do meu coração selado em gotas de sangue, do qual, como se soasse a badalada última, ouvirás o pulsar débil em meu seio. Aguardarás o suspiro próximo do fim: a espera, pelo tempo de uma vida inteira - latentes, retornariam o gozo e a angústia, a força e o medo, a paixão e o ódio, a dor e a indiferença, os desejos e as privações e o amor, sublime, em um segundo-. Quando, enfim, o singelo levantar do peito vier e, em meu sopro gelado de morte, for levada nos braços eternamente a esperança, pelo tempo do fim de uma vida inteira. Então, esse silêncio. Esse silêncio imensamente.
Até termos, eu juro, a alma rasgada, esquecida, carbonizada, trocaremos silêncios. Esse silêncio das palavras redigidas, com que canto. O silêncio das questões arraigadas em meus ditos, e o silêncio das tuas respostas a mim: pois bem, silêncio. Em silêncio querer-te-ei vivo, para me acalentares como amigo - que deveras não és -, mas sempre serás esse silêncio de quando escrevo. Meu silêncio.
Serás Meu, apenas Meu.

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Quem sou eu

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Camille Lyra. O nome fala muito da feição, tanto na sua significância quanto na sua origem; já o sobrenome faz jus à escrita predileta da autora. Sempre curiosa demais, sonhadora demais, ambiciosa demais, romântica demais, intensa demais. E, daquilo que exceder tudo isso, faço poesia.